“Sempre tive esta tendência, que me parece inata, de disponibilidade para o serviço aos outros” – Entrevista com o Diácono Joaquim Cruz

O Diácono Joaquim Cruz é, desde janeiro de 2019, o novo presidente de Direção do Centro Social Paroquial de Torres Vedras. Professor do Ensino Secundário como profissão, foi convidado a assumir o cargo após um período enquanto vice-presidente. Agora à frente da Instituição, apresenta-se “disponível para a nova missão que lhe foi confiada” mas sublinha que a responsabilidade e o compromisso já vêm de trás. Conheça um pouco melhor o seu perfil.

 

De que forma encara este novo desafio?
A partir do momento em que somos ordenados diáconos, o serviço socio-caritativo, o serviço ao altar e a proclamação da palavra fazem parte da nossa missão. Isto remonta ao princípio da Igreja e à necessidade de apoiar quem mais precisa. Os Diáconos permanentes podem ser casados e ter filhos, e é nessa situação que somos convidados a colaborar nas Paróquias, tendo em vista o serviço a Deus e aos outros. Onde existem Centros Sociais Paroquiais, é naturalmente para aí que somos encaminhados. Foi o que aconteceu comigo. Havia aqui uma necessidade de atender às pessoas carenciadas e este Centro está vocacionado para isso. A minha motivação decorre, então, da missão enquanto diácono, aqui em Torres Vedras.

Este cargo é voluntário. Qual o papel do voluntariado na sua vida?
O voluntariado é uma forma de realização pessoal. Quando a pessoa se oferece para fazer algo a que não está obrigada sente-se mais realizada. O Evangelho usa o termo “servo inútil”, sobretudo quando fazemos alguma coisa a que fomos obrigados. É nos outros que se projeta a nossa realização pessoal. No meu caso, durante o tempo em que estive na Escola fui Professor, Presidente do Conselho Executivo e/ou Conselho Diretivo. Fora da Escola estive ligado ao Associativismo. Todos precisamos uns dos outros, mas uns precisam mais de outros que outros. É aí que devemos estar.

É, portanto, um voluntariado de competências, realizado com responsabilidade…
Claro. Só tem valor o voluntariado que tem associado o compromisso. Se eu me comprometo e se assumo aquilo que digo que vou fazer, devo cumprir. Ser voluntário só quando dá jeito não interessa. Aí é apenas boa intenção. Voluntariamente dar de mim também implica vencer as dificuldades para cumprir com a palavra.

Em que contexto surge o diaconado?
Há uma constante na minha vida que é a fé. Sou filho de pais cristãos, católicos, praticantes, que me transmitiram a fé, que me inscreveram na catequese, tudo isso… há um percurso natural desde a infância que sempre me fascinou. Lembro-me que quando fiz serviço militar, nomeadamente em Lisboa, Funchal e África, durante esse tempo procurei sempre estar ligado à Igreja colaborando naquilo que me era pedido.
O ser diácono não é a mesma coisa que ser padre. Para ser padre é preciso que o próprio manifeste vocação. O diácono é convidado. Dom Manuel Clemente, que fazia parte da equipa de formação de diáconos, e o Cónego Tito, fizeram-me o convite para a formação a que dei resposta passado algum tempo. Eu ainda era professor quando iniciei a formação de diácono, mas um ano antes de ser ordenado aposentei-me. Depois, o foco foi só o diaconado, desde essa altura até hoje.

Como surgiu o convite para este novo cargo, de presidente do Centro Social Paroquial de Torres Vedras?
É normal serem os párocos a assumir o cargo de presidente dos Centros Sociais Paroquiais. E durante muitos anos, isso também aconteceu aqui em Torres Vedras. Desde o padre Horácio, que já faleceu, aos outros Párocos que estiveram cá antes do Cónego Álvaro. O Cónego Álvaro Bizarro, nos vários encontros em que estive com ele, afirmava sempre que os colegas párocos não deviam ser presidentes, tinham outras preocupações que os deviam ocupar. Até que ele é nomeado para Torres Vedras e aí entende que devia manter a coerência e não assumir o cargo. Eu surjo como presidente desta maneira muito natural. Estou ligado ao Centro desde há muito anos e conheço muito bem a sua realidade. Estou igualmente disponível, independentemente do cargo que exerço. O ser hoje presidente não sinto que é mais importante, nem é por ser presidente que faço coisas diferentes do que já fazia.

Qual a relevância do trabalho feito pela Instituição?
É o serviço às pessoas mais carenciadas, é a partir daí que tudo parte. Todas as respostas sociais do Centro têm a sua justificação, seja no trabalho com as crianças, como com os idosos. Os nossos serviços são permanentes, constantes, na resposta às necessidades que a sociedade tem e assumindo compromissos que são competência do Estado, daí os nossos protocolos com os respetivos Ministérios. Temos hoje mais de sessenta colaboradores. São mais de sessenta famílias… Como manter cada uma destas pessoas motivada? O trabalho nos Centros Sociais Paroquiais já não é apenas o serviço aos outros, mas responder às necessidades e garantir estabilidade dos seus colaboradores.

E quais são essas necessidades e problemas sociais que identifica no nosso Concelho?
O nosso concelho é uma amostragem do que é o país e o mundo. Temos recebido, nos últimos anos, muita gente de fora com necessidades devido a desemprego, ou conflitos de violência doméstica. Temos uma família de refugiados da Síria. Estamos presentes no bairro da Boavista-Olheiros, que tem características que exigem respostas muito próprias. O Centro procura ajudar as famílias naquilo que elas não conseguem assegurar. Não se prevê que nos tempos mais próximos os problemas venham a resolver-se, pelo contrário, prevemos agravamento.

Qual poderá ser o papel do Centro nesse contexto?
A Instituição deve estar preparada para lidar com problemas, os que já conhece ou outros novos. Temos de ter pessoal preparado, colaborante, que esteja inserido na sociedade e que seja capaz de ir encontrando respostas à medida que os problemas forem surgindo. Neste setor, nada é matemático.